Era a primeira vez que escrevia.
Pensou-o e escreveu-o: “É a primeira vez que escrevo.”
Ainda que se acredite na sua afirmação, estou certo que não será a última
vez que escreve pela primeira vez. Pelo menos assim o espero, porque acredito
que se escreve sempre pela primeira vez.
A primeira vez que comi alcatra, um prato açoriano típico, e declarei que
era a melhor comida que alguma vez comera, não foi a primeira vez que comi
alcatra. Na verdade, se querem saber, foi a segunda vez.
A primeira vez não é na maior parte das vezes a única, existindo grandes
possibilidades de repetição e existindo por sua vez muitas possibilidades de
novas repetições. O ter existido uma primeira vez que fizemos ou vivemos algo não
significa que não possam existir novas primeiras vezes para a mesma acção ou
situação. Quem já não disse, quem não já sentiu, ao fazer algo que já fizera
muitas vezes, que aquela era a primeira vez que lhe acontecera daquela forma?
Por tudo isto, quem sou eu para negar alguém, até um escritor, que afirma
peremptório que escreveu mais uma vez pela primeira vez. Também eu, ainda que
assim não seja, quero sentir que escrevo pela primeira vez, quero acreditar que
escrevo sempre pela primeira vez.
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