domingo, 8 de maio de 2016

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Era a primeira vez que escrevia.

Pensou-o e escreveu-o: “É a primeira vez que escrevo.”
Ainda que se acredite na sua afirmação, estou certo que não será a última vez que escreve pela primeira vez. Pelo menos assim o espero, porque acredito que se escreve sempre pela primeira vez.
A primeira vez que comi alcatra, um prato açoriano típico, e declarei que era a melhor comida que alguma vez comera, não foi a primeira vez que comi alcatra. Na verdade, se querem saber, foi a segunda vez.
A primeira vez não é na maior parte das vezes a única, existindo grandes possibilidades de repetição e existindo por sua vez muitas possibilidades de novas repetições. O ter existido uma primeira vez que fizemos ou vivemos algo não significa que não possam existir novas primeiras vezes para a mesma acção ou situação. Quem já não disse, quem não já sentiu, ao fazer algo que já fizera muitas vezes, que aquela era a primeira vez que lhe acontecera daquela forma?
Por tudo isto, quem sou eu para negar alguém, até um escritor, que afirma peremptório que escreveu mais uma vez pela primeira vez. Também eu, ainda que assim não seja, quero sentir que escrevo pela primeira vez, quero acreditar que escrevo sempre pela primeira vez.

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