Depois de uma palavra ter sido pronunciada, o silêncio que regressa nunca
é o mesmo de antes. O silêncio é dúctil, altera-se com facilidade, contrai-se e
expande-se quando tocado pelas palavras, molda-se a elas, cede facilmente aos
seus desejos. As palavras sabem da sua docilidade e abusam. Às vezes o silêncio
cansa-se e resiste-lhes, mas nunca lhes diz que não.
As palavras transformam-se com facilidade e muitos vezes aquela que
parecia ser a mesma palavra já não é afinal a mesma palavra, basta repeti-la,
basta juntá-la a outra e a mesma palavra, palavra comum, palavra mágica, já não
é a mesma palavra de antes. E o que acontece às palavras acontece também às
frases, aos parágrafos e por aí adiante, o todo fluindo e transformando-se como
um rio que se tornará mar.
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