Escrevo, palavra a palavra, com
cuidado. Observo, observo-me, escrevo. Como se seguisse um caminho que eu
próprio imagino mas que me leva quase contra a minha vontade. Estou a caminho,
como se conduzisse um carro por uma estrada qualquer.
Espero, suspendo a escrita, respiro
fundo. Observo, observo-me. Respiro fundo, respiro mesmo fundo, uma e outra
vez. Sinto-o e escrevo-o mais uma vez. Tento encontrar a verdade desta mentira
que é escrever.
A estrada está à minha frente, é de
noite, estou sozinho; para chegar seja onde for tenho de continuar. Posso
perder-me, posso não chegar aonde quero, supondo que sei onde quero ir; mas
chegarei a um qualquer lugar, esta é a certeza de escrever.
Estou preocupado, combato medos, luto
contra a crescente ansiedade, porém tenho a certeza de que a estrada
existe e que chegarei a um qualquer lugar, se a seguir; e isto é escrever.
Mas também posso ficar pelo caminho,
pode faltar-me o combustível necessário para chegar, ou pelo menos para me
reabastecer e continuar. Avanço, corro o risco, confio na minha sorte, confio
nas minhas capacidades, deixo-me levar pelas palavras, aproveito as descidas,
faço-me leve, persisto, ignoro os sinais de alarme, digo a mim mesmo que vou
chegar e, quando dou por mim, contra todas as possibilidades, cheguei ao ponto
que me permite parar, que me permite continuar.
Observo-me, sinto-me, digo a mim mesmo
que vou ficar por aqui, que depois continuarei a percorrer a estrada. Digo-o,
escrevo-o, e fico por aqui. Antes de terminar volto ainda atrás, e
revejo o que me aconteceu. A escrita é sempre memória de si mesma.
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