No princípio é apenas uma frase sem contexto, uma insistente sensação indefinida,
uma vaga interrogação atrevida que exige formulação. É preciso seguir, não prolongar
a espera e partir atrás de algo que não se sabe o que é. Pode ser uma melodia,
uma pequena dissonância ou uma indistinta perplexidade. Porque que é que as
pessoas se encontram e se agrupam quase sem se conhecerem? O que têm em comum
aquele homem e aquela mulher que se abrigaram da chuva numa estreita portada?
Será que foi por acaso ou existirá uma qualquer explicação mais ou menos lógica
ainda que mais ou menos improvável. Teriam de se encontrar? Se o autor quiser
escrever uma história de amor eles terão de se encontrar ou pelo menos de serem
referidos um ao outro. Pode até ser uma história de desencontro. Imaginem que
aquele homem e aquela mulher são perfeitos um para o outro, no tempo e espaço
daquele encontro que nunca se realizará porque ele ou ela encontrarão um
pretexto para desencontrarem. A chuva abrandou, quase não chove, diz ele, e sai
a correr. Estou tão perto de casa, diz ela, mais vale dar uma corrida até
lá antes que comece a chover mais, e sai determinada. Seja como for, a verdade
é que nunca se encontraram, sabe-se lá porquê. Talvez porque eu não o permiti.
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