Falar e escrever não é muito diferente. Um homem que não soubesse escrever
poderia por exemplo ditar para outro ou para um gravador o que tivesse de
dizer. Faltar-lhe-ia a capacidade de rever, faltar-lhe-ia talvez a capacidade
de organizar da melhor forma o que ditasse. Quando escrevemos ditamos para nós
mesmos, e sei que uns corrigem mais do que outros, e sei ainda que uns
acreditam mais do que os outros na necessidade de uma primeira versão. Mas quer
se escreva, quer se fale, é sempre com palavras que o fazemos. À escrita falta
todo o contexto não verbal em que a fala é pródiga, mas sobram-lhe outros
recursos. O homem não sabia ler nem escrever, mas sentia em si a necessidade de
dizer-se, de comunicar, de contar histórias. Por isso cansou-se do silêncio e começou
a falar. Depois sentiu saudade do silêncio e começou a escrever.
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