Pedras não sentem alegria nem
ciúme, montanhas não amam.
Esta frase, retirada do seu
contexto, onde faz todo o sentido, lógico e argumentativo, poderia ser o verso
de um poema. A frase exala poesia, exala mistério. É tão óbvia que parece
anunciar um mistério, é tão óbvia que parece que diz muito mais do que aparenta
dizer.
Experimento aumentá-la.
*
Pedras não sentem alegria nem
ciúme, montanhas não amam.
E no entanto tantas vezes somos
pedras, tantas vezes somos montanhas.
*
Volto a experimentar,
abandonando a frase original.
*
Mas o que seria das pedras se
não amassem com todo o seu ser?
Mas o que seria das montanhas
se não sentissem alegria e ciúme?
*
Ainda outra vez, começando com
uma pergunta e regressando à frase original.
*
O que é o mundo sem o amor? O
que é a vida sem alegria e ciúme?
Pedras não sentem alegria nem ciúme,
montanhas não amam.
*
Experimento agora prosa, com uma pequena história, metade poema,
metade aforismo.
*
As pedras são seres tristes que
aspiram a ser montanhas. O que desconhecem é que as montanhas são pura
melancolia.
*
Experimente agora o leitor.
Escrever, tal como ler, é persistir, é experimentar todas as possibilidades.
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