quarta-feira, 25 de maio de 2016

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Pedras não sentem alegria nem ciúme, montanhas não amam.

Esta frase, retirada do seu contexto, onde faz todo o sentido, lógico e argumentativo, poderia ser o verso de um poema. A frase exala poesia, exala mistério. É tão óbvia que parece anunciar um mistério, é tão óbvia que parece que diz muito mais do que aparenta dizer.

Experimento aumentá-la.

*

Pedras não sentem alegria nem ciúme, montanhas não amam.

E no entanto tantas vezes somos pedras, tantas vezes somos montanhas.

*

Volto a experimentar, abandonando a frase original.

*

Mas o que seria das pedras se não amassem com todo o seu ser?

Mas o que seria das montanhas se não sentissem alegria e ciúme?

*

Ainda outra vez, começando com uma pergunta e regressando à frase original.

*

O que é o mundo sem o amor? O que é a vida sem alegria e ciúme?

Pedras não sentem alegria nem ciúme, montanhas não amam.

*

Experimento agora  prosa, com uma pequena história, metade poema, metade aforismo.

*

As pedras são seres tristes que aspiram a ser montanhas. O que desconhecem é que as montanhas são pura melancolia.

*

Experimente agora o leitor. Escrever, tal como ler, é persistir, é experimentar todas as possibilidades.

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